quarta-feira, 10 de junho de 2009

Folhas - Letras & outros ofícios nº 12


A SALINEIRA



Rosto ao vento
gemendo sob o peso
da canastra de sal
a salineira carrega cristais de sonho
num sofrimento milenar
consentido.


Pés descalços e encardidos
fazem tape-tape
no lajedo do cais
e o céu se espelha
na doce calmaria da Ria.


Gaivotas nervosas
cruzam o espaço
com gritos estridentes
e os barcos saleiros
cheirando a maresia
balouçam ao ritmo
da descarga


Praguedo inocente
se espalha no ar
saído das bocas de carregadores
atarefados.




Ao longe
a grande planície
se espreguiça nos braços da Ria
e as ervas dos esteiros murmuram
as canções do vento.


De onde em onde
montes de sal
pontilham o horizonte
como seios voltados ao céu


Jeremias Bandarra

1 comentário:

Sara Bandarra disse...

Belo poema ;-)
Assim é a salineira.