quarta-feira, 10 de junho de 2009

Folhas - Letras & outros ofícios nº 12

ENCONTRO INTERNACIONAL DE POESIA
Saudação aos Poetas Estrangeiros



1 – Aveiro, que já foi apelidada de berço da liberdade, também pode ser designada como cidade da poesia. Na verdade, ante a frequência com que se vão realizando em Aveiro jornadas internacionais de poesia; ante a expressiva variedade de elementos humanos, de vários países, que integram o grupo de poetas que hoje nos visita – parece que outra designação diferente da de cidade da poesia se lhe não ajustaria tão adequadamente…

2 – O facto permite-nos lembrar fugazmente uma teoria poética notável, defendida pelo grande filósofo Hans-George Gadamer, que consagrou uma parte muito apreciável da sua reflexão à fenomenologia da arte. Afirmava ele, na verdade, que esta se apoiava sobre uma base triádica constituída pelo símbolo, pela festa e pelo jogo.
Um traço comum une estes três elementos: a Liberdade. Realmente não há símbolo sem a presença livre e feliz de uma coisa e outra coisa, do simbolizante ao simbolizado e inversamente, como na tabuinha ou na pequena placa de cerâmica que, na Antiguidade, o hóspede e o hospedeiro partiam em duas metades que, mais tarde, no meio das incertezas do mundo e da vida, unindo-se perfeitamente, haviam de proclamar o reencontro feliz dos dois amigos. Quanto à festa, realmente ela não existe, digna deste nome, se não significa afirmação livre, auto-inclusão desejada na celebração que se realiza. O mesmo que acontece no jogo, que só existe quando se aceitam de modo integral as regras que o definem e onde cada um dos participantes se realiza na plena aceitação de todas essas mesmas regras.
Eis aqui, em resumo tosco e apressado, o que a teoria tão bela e tão sugestiva de Gadamer nos propõe para meditar.

3 – Não é festa, símbolo e jogo o que hoje aqui nos reúne? Eu julgo que sim, desde logo porque é a poesia que aqui reina e é ela a senhora por todos nós escolhida e venerada. É ela o centro da festa e é ela que com a sua graça luminosa nos une e nos dá o impulso para abraçarmos toda a cidade. É ela que assim dá sentido à vida que nem sempre vivemos como desejaríamos. Mas é ela também que junta liberdade e harmonia, participação e abertura, convívio e horizontes sem fim…

4 – Não queria terminar, poetas que vindes de longes terras a esta terra aveirense, sem vos dar um breve fragmento de uma página de inimitável ternura de um grande escritor aveirense pela sua terra (o Arcebispo D. João Evangelista de Lima Vidal):
“Nós, os de Aveiro, somos feitos, dos pés à cabeça, de ria, de barcos, de redes, de velas, de montinhos de sal e areia, até de naufrágios”.
Parafraseando o Arcebispo, creio que posso garantir-vos que, neste quadro que simboliza a alma aveirense, também vós, queridos amigos, passais a ter um lugar – um lugar que havemos de honrar tal como a vossa poesia.


Joaquim Correia

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