AS ÁGUAS QUE CONHEÇO SÃO DA RIA E DO RISO
Há nos sibilos álgidos que os moliceiros me trazem
Corpos de sal que se desmoronam bocas de sangue inaugurado:
São os barcos e a ria a quimera dos líquidos
A sede do contorno das gargantas.
Abrir esse coração junto ao verbo que a paisagem
Aquém ou além desta me desabrocha luz
Em canais ramificados?
Em que outro mundo se ouvem as águias de oiro
Tão lava que o voo lhe acende as asas como crateras?
E os estuários crescem inseguramente no distúrbio das crias.
Onde procrastinava ela os dias contra as órbitas
Esse primeiro dia do dilúvio?
Vinham aves sem canto na inconcebível súplica
Que se transmuda riso.
Que superabundância de vozes: entoar o fogo antigo
Como quem não tivesse nenhum dom
De insondável loucura
Onde a água é uma queimadura sagrada.
Quem me largou renovado aqui sufocado de espanto
Desta laguna de melancolia? Como
Te chamas tu
Tentáculo fincado em ti, um azul de prata
Dentro do mar de moliço
Que me retesas as velas no interior da memória
Instilando a sílaba
Alumbrada: aquela língua precária das estações cálidas
Sobre o eco da cidade
Porque o riso busca a metáfora da ria
Onde ainda se refrescam a prumo
As rudimentares moradas do coração das criaturas.
João Rasteiro
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