domingo, 6 de dezembro de 2009
O carrinho de rolamentos - Lurdres Breda
O carrinho de Rolamentos
O carrinho de rolamentos
Desce ravina abaixo.
— Guilherme! Guilherme!
Os seus cabelos negros
Perfumam-se na brisa
Das amendoeiras floridas.
Os pássaros acompanham-no.
Fazem o pino no ar.
A velocidade tinge-lhe as faces
De medo e adrenalina.
Os gritos dos companheiros
Incitam-no a voar.
O carrinho de rolamentos
Desce ravina abaixo.
— Guilherme! Guilherme!
As rodas estremecem
Sobre o saibro.
Derrapam no cascalho.
Suadas, as mãos
Agarram, com força,
No cordel da direcção.
A aragem parece vir
Em sentido contrário.
Silva-lhe nos ouvidos.
O carrinho de rolamentos
Desce ravina abaixo.
— Guilherme! Guilherme!
Os olhos enchem-se de céu,
De terra, de flores e de crianças.
A pressa torna os rostos
Metafísicos. Abstractos.
Saltam seixos à sua passagem.
Imagina-se a cavalgar o vento,
Que foge e o abraça,
Que o empurra e o beija,
Pelas curvas da infância.
— Guilherme! Guilherme!
O carrinho de rolamentos
Desce ravina abaixo.
Lurdes Breda
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2 comentários:
Guilherme, foge da chuva que te constipas!
bjs
este poema é uma delícia!
se me permite, guardo-o e dou à minha filha para ler ;)
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