domingo, 14 de fevereiro de 2010
Wanda - Ana Paula Mabrouk
WANDA
Como chuva quente teus beijos me molham e escorrem, sôfrega de ti, ávida de tempestades. Um arrepio entre mãos quentes e nervosas, um revoltear de negros fios sedosos sobre os ombros nus e um deslizar premente, um sorriso liberto. Movimentos carentes, uma busca de mais, do Além, riso e esquecimento. Um arquear de costas, um ainda gentil morder de lábios, um cerrar de olhos. Um fluir de afluentes e rios e mares. Novas marés. Um revolto ar de formas, gemidos de prazer, palavras sussurradas. Orvalhos cintilantes. Montanhas coroadas, espetadas, desafiadoras e tão doces de escalar. E vales escuros, resguardados, com leitos secretos. Aqui um regato; aí uma vara nua, orgulhosa, a pique. Pronta a frutificar. Um descer de montanha, uma brisa escaldante. O sol a pico. Maré alta, maré baixa; maré alta, maré baixa. Marés vivas. Ondas que se enrolam num contínuo movimento, sem princípio, nem fim. Trovoadas e relâmpagos e o céu acastelado de nuvens sopradas com pressa. Vendaval de emoções. Mãos crispadas, nervos retesados. Alta tensão. E eis então uma descarga de voltagem colossal, um desaguar de vaga alterosa, um cometa morrendo nos céus. Assombroso, magnífico, imponente!... e impotente perante a sua morte. Descida vertiginosa ao abismo. Última faísca de vida. Um estremecer de estrela cadente! Um último olhar...E um milhão de outras estrelas, novas promessas no firmamento. Um suave e suado olhar aos olhos da lua minguante, que mente ao crescer .
Ana Paula Mabrouk, Alfabeto no feminino, Mar da Palavra, 2005
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