domingo, 21 de fevereiro de 2010

Destino - Turíbia



Destino silenciado



Doem-me os dedos no jornal, onde a foto do teu sorriso público
estremece sob as memórias do meu olhar.
Dou comigo na gare do oriente, levada pelas notícias antigas
do nosso amor adolescente.
E, com os pés enrolados na areia, a praia das maçãs vai-se
demorando em beijos de amoras selvagens
sobre os meus ombros despidos.
Regresso, devagar, ao quarto lunar, onde o corpo faminto contra
a parede contava a nossa história nos painéis espelhados do luar.
Nesse tempo, a tua voz era Lisboa no meu colo cantando
só para mim, enquanto, de mãos entrelaçadas, a tarde subia
no cansaço de quem regressa do castelo dos mouros.
Lembro-me do cheiro do peixe no forno e das tuas mãos ardendo
em todos os recantos do meu corpo salgado, Sintra sobre a mesa,
e éramos nós o amor com tantas horas para contar mais tarde.
Doem-me os olhos das lembranças e o orvalho distorce o teu sorriso,
prisioneiro do presente mundano, sem tempo para acender
as lareiras do desejo. Mar, gaivota, ondas de prata, céu, areia quente.
Doem-me as palavras azuis , nesta tarde em que as guardo
nas mãos fechadas do silêncio.



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(IN)DESTINO


Levo as mãos às tuas em pensamento.
Regresso ao silêncio com os dedos
amargurados de ternura.

Acontece-me tantas vezes...

É no silêncio escuro da casa
branca que te procuro.

Assim te falo dos gestos
dos corpos em flor.

Entro na tua boca,
por entre um sorriso cheio de sol e mar,
e já não há noite
nesta casa adormecida.

Um beijo atravessa as palavras
e o mar somos nós
na ternura dos dias.

Desperto do lado da saudade.

Nunca entraste neste corpo
e nunca daqui partiste.

Desejo incendiado este sonho
tão acordado nas veias.

Acontece-me tantas vezes...

Dizer que gosto de ti
é apenas uma gota deste mar.



turíbia

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