domingo, 14 de fevereiro de 2010

Corpo - Isabel Rosete



O meu corpo
Em sofrimento contínuado
Consome-me todas as energias

Fico exausta
Prostrada

Permaneço deitada
Sem força
Para os membros erguer

As minhas mãos
Ainda não escrevem
O que o meu pensamento
Lhes determina

Até quando?

A incógnita
Persiste
Neste meu estar de agonia
Sem tréguas

Agonia-se-me a alma
Aproximo-me da Morte
A qualquer momento
Esperada

Sinto que o colapso final
Está aí
Algures
À minha espera
Pronto a revelar-se

Não o temo
Em mim jaz
Em mim está integrado

Lembra-me
Quão a existência é efémera
Quão ninguém
Somos
Neste espaço de arrogância
Que alimenta a incompreensão dos outros


****************

O mesmo corpo

Somos amantes

Inter-seccionados.



Esquecemos o Mundo.

Fechamo-nos

Nas nossas próprias conchas.



Esquecemos os Homens.

Queremos ser só nós.

Nada mais importa!



O Amor preenche-nos.

Por completo

Alimenta

Os nossos corpos

Ardentes,



As nossas almas

Inundadas

De intensa alucinação.



Temo-nos,

Apenas,

Um ao outro.

E isso basta-nos.

É mais do que Tudo.

Está para além do Nada.



Tornamo-nos esféricos

Auto-suficientes.

Esquecemos o Universo.

Permanecemos

Em todos os espaços.



Somos o mesmo corpo

A mesma alma

O mesmo sangue

O mesmo plasma

A mesma pele...



Somos um só organismo

Que se auto-preenche,

Prenhe de fertilidade.



Esquecemos a Vida,

Vadia,

Repleta de futilidades.



Esquecemos a morte

Somos eternos!


Isabel Rosete

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