domingo, 28 de fevereiro de 2010

In Pedaços - Madalena Oliveira



“(…)

E chegou aquele Inverno frio e ventoso. Temporais que faziam estremecer a alma e a terra e o mar. A trovoada era frequente e frequentemente sobre o mar. Lembro aquela
noite, noite da tua ausência, o ribombar dos trovões era mais forte do que os meus ouvidos podiam suportar. Desde o momento em que a noite se iluminava pela luz espectacular do relâmpago, até ao instante do rebentar do trovão, não havia tempo para contar o tempo! Parecia imediato. Dois planos contraditórios se seguiam Por um lado, a visão fascinada pela luz inebriante, levava-me a desejar que aquele efémero instante se prolongasse no tempo; por outro, com os ouvidos ensurdecidos pela dor, desejava que acabasse súbito aquele suplício. E o ribombar dos trovões durou noite fora.
Era madrugada quando regressaste. Cabisbaixo, não deste explicações. Também não as pedi.


E continuou o vento a assaltar as nossas vidas e eu estremeci. E vieram os temporais com rajadas fortíssimas e os furacões e os tornados… E os deuses que tinham abençoado este AMOR foram por eles levados e eu fiquei desamparada!
E o nosso AMOR, montanha de rocha maciça, desmoronou-se, qual duna sem vegetação, sem termos forças para a segurar.
Por certo que em algum momento pecámos contra os deuses.
Março, tempo do despontar da Primavera, tempo de arar a terra e de a fecundar. Chegada das aves migratórias, chilreios, galanteios, construção de ninhos…
Março não me trouxe o prenúncio da fertilidade, mas antes o da morte. Os indícios foram chegando….

(…)”

In Pedaços

Madalena Oliveira


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