domingo, 15 de novembro de 2009

Chuva inquieta - Regina

CHUVA INQUIETA

Ele abrigou-se no vão estreito de uma montra

Havia electrodomésticos demasiado ferozes
Para aspirar, triturar, fotografar, aumentar, congelar...

Para se aquecer puxou até ao pescoço o cartão frágil
Só ficou com os pés de fora, à chuva
E adormeceu com um beijo LCD bem panorâmico

A chuva transformou em enxurrada,
Galgou para fora das sarjetas,
Inundou os passeios e as estradas

Pela manhã, quando passou, varreu-se a lama,
Limpou-se os vidros dos olhos
Fez-se as contas para contabilidade
Mas quase ninguém reparou nos pés caídos
De um homem que morreu de frio
No coração Bluetooth de uma cidade

Regina

1 comentário:

Ana Paula Amaro disse...

Reg,

adorei o teu poema. Sarcástico e inteligente como tu.

Jocas
Ana Paula Mabrouk