domingo, 7 de março de 2010

Sinfonia a duas Vozes - Lurdes Breda




Sinfonia a Duas Vozes

— O mesmo Deus que me gerou,
Criou as rosas e o orvalho.
— Deixa-me respirar
O teu oxigénio com andorinhas…
— E as rosas azuis?
— Beijo os teus lábios de pétalas.
— Sob as pétalas há espinhos…
— Fere! Rasga a minha boca!
Ensanguenta a minha alma
Com os versos do poeta.
— A tua insensatez pinta a lua de framboesa.
— E que te importa a ternura
Dessa ferida no meu peito?
Tu preferes a dança da noite,
Num corpo sem asas.
— A vertigem da noite é cálida…
— É dela, o manto de veludo negro,
Onde se oculta o meu desejo?
— Infinito… Infinito… Infinito…
— Os teus cabelos estão cheios de estrelas!
— E de folhas e flores…
— A solidão, que rasga a face do silêncio,
Traz a bruma dos oceanos
E o canto das sereias, ao anoitecer.
— A minha alma desfolha-se
Sob as tuas mãos de bronze.
— O amor tem a imortalidade dos deuses!
— Paixão… Paixão… Paixão…

Lurdes Breda


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