Amor
deixa que entre na tua boca e nela me deite
até amanhecer a razão
vagabunda sem pudor
Roço nos meus seios a camisola
que em casa deixaste
Nela habita ainda o cheiro da tua pele
o calor no meu acrescentado
Mantenho a vela acesa
e o sândalo impregnado nas mãos entrelaçadas
aguarda o teu regresso
para que o odor de novo nos incendeie
Deixa que entre nos teus olhos
amor
e nada digas até que neles me abrigue
como ave descansada
após a lenta construção do ninho
O anjo permanece sereno
sobre o mundo que criámos
de braços estendidos sobre o leito
Nas mãos abertas
o cheiro das laranjeiras em flor
e a ternura renascida
Nos espelhos da sala
são os teus olhos que nos meus se abrem
e eu peço o sol uma vez mais
e outra
e outras mil são as razões deste amor
Deixa-me entrar em ti e fechar a porta
de mansinho
como quem parte de férias
sem vontade de regressar
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Remaram mansamente estas palavras
de outra boca, amor.
Aqui chegaram, lívidas e trémulas.
Na voz, o medo dos olhos que as abrigaram
na rede destas paragens onde
Amor
é a palavra exausta de tantas viagens incertas.
Nas agitadas águas, apenas um fio de lágrimas
no rio das memórias magoadas.
Alguns sorrisos, tantas esperanças,
amor,
não se esgotam neste caudal de abraços.
A muda alegria do beijo trocado não embarcou
nesta memória de palavras.
Turíbia Figueiredo
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