quinta-feira, 25 de março de 2010

Na tua boca - Turíbia Figueiredo



NA TUA BOCA



Pela tua boca,
polpa doce e macia,
devoro o prato das memórias.

E, com os olhos do silêncio,
sigo das andorinhas o voo
até ao fio
do horizonte,

em que na tua boca
me deito.

Desço as alças ao vestido
da alma, e com a polpa
dos dedos cegos

permito o deslizar da seiva,
que pela tua boca
de groselha

me conduz à madrugada.

É na tua boca,
pão, fruto, nenúfar,
flor de água,
que me deito
e desperto

desfolhada.


turíbia figueiredo


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