AS MULHERES (AINDA)
as mulheres meninas explodem
de lábios cerrados os fios de sangue
que dizem tradição, golpes no sexo,
como crias ferradas para procriar.
as mulheres saem à rua com os olhos
e regressam a casa com os mesmos olhos,
nunca tendo embarcado a porta da escola
respirado outra maresia ou palavra sua.
as mulheres mães da praça de maio,
e de tantas mais as praças, empunham
como velas a memória inconformada,
filhos desaparecidos sem porquê sem onde.
as mulheres de arrasto à clausura
das jaulas têm dono, aprendizagem
a soro de batom vestido e salto alto
até renderem nas redes do mercado.
as mulheres agonizam as quatro
paredes da casa, seu corpo macerado
na agrura de duas mãos eriçadas
ou na trovoada de pedras na rua.
Maria Manuel Rocha
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