domingo, 24 de janeiro de 2010

Sobrevivência - Maria Manuel Rocha



Escrevo
os rios rubros da lava
vertida em brasa,
imolação tremenda.

os leitos cálidos
a escassez do arado
os cutelos nas raizes.

a voragem das espirais
como espectros cinza
a despenhar caos.

as margens desvalidas
no sorvedouro vasto
das vagas, em tragos.

as fissuras da terra
covas escavadas,
o peso das pedras.

Escrevo
a fuligem das vozes
esquivas à indigência
os gatilhos surdos
como sismos, estilhaços.

A nudez
das casas das hastes
as aves refugiadas
as vidas as campas
os sonhos mudos.

E por dentro da ruína
os rostos de um dia,
olhares em suspensão
ou mãos em despertar
um dia outro, um dia outro.


Maria Manuel Rocha

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