mergulho no rastro do sol
oculto. oblíquo no rigor
crepuscular das vagas,
poente de náufrago.
um ínfimo fio de luz
lânguido de lassitude
na travessia do corpo
do coração desnudo
das mãos a expirar
o silêncio inteiro.
na metamorfose das águas
devolvo ao mar as palavras.
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FINITO
acontece que um dia findava o corpo na mesma terra.
devagar, uma ave a vogar em meio das nuvens.
devagar, o silêncio das cinzas sobre as águas do mar.
as cinzas que seriam ondas algas limos
na luz pura que não é sol nem lua.
as águas espumariam sob as gaivotas
na memória do tempo que seria nosso.
do caminho das horas possíveis pouco legava.
umas palavras talvez. uns instantes uns afectos.
no remanso da brisa. do interior da maresia.
que o mar apenas dissera: habitam
as ondas em nós. como cristais
de sal, onde intentam a nossa voz .
acontece que era fábula rara, a eternidade.
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REQUIEM (pelas guerras que grassam o mundo)
rasante o voo do abutre
sobre a pálpebra desfalecida,
eco das palavras em branco.
as aves gritam por dentro
das chamas. chuva ácida
nos campos d’encarnado.
das árvores desnudas
a fúria das folhas soltas
a entrar casas dentro, ruínas
desabitadas na voz do medo.
Maria Manuel
domingo, 3 de janeiro de 2010
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