
* underground
rompeu-se o tecto
en/curtaram-se as paredes
e a mão fria que me toca
, não é a minha
Ana Oliveira
Caminhamos
Pelas areias desertas,
Mas não sabemos onde está o Mundo.
Transpiramos
Por todos os poros,
E não expulsamos as aflições da Vida.
Removemos
Um passado penoso,
Que sempre nos consome o espírito.
Esperamos
A felicidade,
Numa marcha penosa e lenta.
Sonhamos
Com um futuro radioso,
Sem as manchas do infortúnio.
Repelimos
Os gritos desesperados
Dos Povos enclausurados,
E a liberdade não conquistamos.
Lutamos
Em des-união
Pela paz perpétua,
Mas a guerra não aniquilamos.
Sobrevivemos!
Isabel Rosete
quero respirar
no meio do betão
o mundo acabou
não tenho água
nem comida
não quero morrer
pouco tempo
de vida
resta-me
olhar esta perna
ferida
não quero morrer
o poema está dentro
de mim
o poema
de sobreviver
não quero morrer
orlando jorge figueiredo
SOLIDÃO
...e invento a rosa
a perfumar o quarto
e a madrugada
com lençóis pelo chão
e a luz coada
a dizer que parto
e tu, em meu ouvido
a dizer que não...
...e invento vida
pra nós dois, tolice
e invento beijos
na palma da mão
e invento palavras
que disseste e eu disse
e que bate em nós
um só coração.
...e invento horas
no calor do abraço
e a nostalgia
no tempo vidraça
e invento falares
risos, alegria
nos tristes olhares
da gente que passa!...
Maria Mamede
Eco uno
Guardo de ti o choro nos olhos
E uma mágoa interminável no ser.
Fico perdida no tempo
Chovendo rasgos de memória,
Dilacerando névoas de solidão.
Esforço-me nas lembranças
Mas de riso nem um fiapo.
E descobri, tristemente,
Que não posso deixar morrer em mim
Esta mágoa sentida de ti.
É tudo o que me resta, afinal.
Prefiro morrer aos poucos,
Do que deixá-la morrer singular,
Eco uno do que já foi plural.
Ana Paula Mabrouk